A campanha “Abra os olhos e combata a fraude”, lançada este mês pela Carris e pelo Metropolitano de Lisboa, está a ser criticada por utentes e movimentos ativistas, que a consideram "absurda" e "provocativa".
A Carris e o Metropolitano, numa nota enviada à agência Lusa, “entendem que os objetivos da campanha estão a ser totalmente atingidos, já que a mesma não está a deixar ninguém indiferente ao tema, tendo trazido para a discussão a necessidade de o transporte público ter de ser utilizado, com recurso a um título de transporte válido e corretamente validado”.
O cartaz da campanha mostra dois olhos abertos e onde se lê que “a falta de validações pode sair caro: menos carreiras, menos comboios, maior tempo de espera, degradação do serviço”.
Para a Plataforma de Utentes da Carris, a campanha é “absurda” porque “responsabilizar os problemas que existem de alguma utilização abusiva dos transportes públicos por parte dos utentes, nomeadamente numa situação de crise (…) é uma coisa que não se admite”.
Em declarações à Lusa, Carlos Moura, da plataforma, lembrou que o Governo “obrigou” as empresas de transporte a se endividarem para assegurarem a manutenção e aquisição de equipamento “e agora diz que essa responsabilidade é de alguns passageiros que os utilizam abusivamente”.
Carlos Moura lamentou ainda que as empresas estejam a apelar aos utentes que “se denunciem uns aos outros”.
As empresas esclarecem que, com esta campanha, “assumindo uma linguagem mais incisiva para que ninguém fique indiferente, reforça-se o apelo ao sentido de responsabilidade e de cidadania de todos os que utilizam o transporte público para a necessidade de validarem o seu título de transporte, como forma de manterem um serviço público de transporte sustentável e de qualidade”.
Por seu lado, o Movimento de Utentes do Metro de Lisboa, considera a campanha “uma enorme provocação”.
“O infeliz ‘outdoor’ responsabiliza os cidadãos que se furtam, de maneiras várias, a pagar o transporte, pela degradação do serviço e, em sintonia com o Governo, induz à velha prática pidesca da denúncia”, lê-se num comunicado enviado à agência Lusa.
Afirmando que quem paga para andar de metro “não pode, obviamente, concordar e apoiar os que andam de borla”, o movimento dos utentes defende que “há que distinguir os que o fazem por marginalidade e os que o fazem pela pobreza que tem aumentado assustadoramente nos últimos anos”.
Também o movimento ativista Exército de Dumbledore tem criticado a campanha na sua página de Facebook, onde apela aos passageiros para fazerem boicote à utilização dos passes no metro em protesto.
O movimento lamentou que a Carris e o metro considerem “que é papel do cidadão denunciar as pessoas que não têm capacidade de pagar o passe neste momento”.
A campanha foi lançada no início do mês, está disponível em cartazes, no interior das carruagens e autocarros, nos sites e nas páginas de facebook das empresas e teve um custo de 9.900 euros.
Esta campanha, explicam as empresas, faz parte de “um conjunto de medidas e de ações que visam o cumprimento mais eficaz do estabelecido na lei que aprova o regime sancionatório aplicável nas transgressões ocorridas nos transportes coletivos de passageiros”.
Segundo um relatório encomendado pelo Governo, a fraude está a custar mais de oito milhões de euros por ano aos transportes públicos de Lisboa e provoca prejuízos mensais superiores a 400 mil euros na Carris.