Os utentes da Linha de Cascais querem conhecer as conclusões do inquérito sobre o mais recente incidente conhecido naquela ligação, que os trabalhadores admitem ter sido causado por uma falha no material circulante, responsabilidade da CP – Comboios de Portugal.
Em fevereiro, dois comboios descarrilaram com poucos minutos de diferença na Linha de Cascais, sem causar feridos, o que motivou o Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres (IMTT) a nomear uma comissão de inquérito para determinar as causas do incidente.
A Lusa tentou obter as conclusões deste trabalho junto do IMTT, mas até ao momento, cinco meses depois do incidente, não obteve nenhuma resposta.
Do lado da Rede Ferroviária Nacional (Refer), o responsável pelo Departamento de Gestão de Ativos, Marco Baldeiras, assegurou à Lusa que “do ponto de vista da infraestrutura não existia nada que pudesse originar” o incidente.
O coordenador da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), José Manuel Oliveira, afirmou mesmo, apesar de não conhecer o relatório do IMTT, que “uma falha de material provocou aqueles incidentes” e que “isso é demonstrativo de que é preciso investir naquela linha”.
Ambos apontaram que o relatório do IMTT não é conhecido, situação que a Comissão de Utentes da Linha de Cascais quer inverter.
“Todos os relatórios de todos os incidentes deviam ser tornados públicos para que a população tenha conhecimento do que se passa aqui”, defendeu o líder da comissão, José Figueiredo.
O utente afirmou que é “extremamente perigoso” circular na Linha de Cascais pela falta de manutenção, “que põe em causa a segurança dos cidadãos”.
A Fectrans entende mesmo que esta é a ligação em pior estado da Grande Lisboa, pelas características da infraestrutura e do material circulante, já com várias dezenas de anos.
“São os trabalhadores que garantem o mínimo de condições de segurança nesta linha: quer na infraestrutura, quer no material circulante. Mas há um momento em que, por mais aplicação de competência que se faça, não é possível alterar uma estrutura e material circulante velho”, disse José Manuel Oliveira.
Os trabalhadores e utentes voltam a pedir um “forte investimento” naquela via, que recusam que seja possível com a privatização da gestão da Linha de Cascais, prevista para o próximo ano.
“Não estamos a ver que um privado venha aqui enterrar milhões num investimento se não tiver garantias a partida de retorno desse investimento”, afirmou o sindicalista.
Os últimos investimentos previstos para a Linha de Cascais, definidos pelo anterior Governo liderado pelo socialista José Sócrates, estavam estimados num total de 160 milhões de euros até 2016.
“Este é um investimento de muitos milhões, não tantos quantos aqueles que o Estado português está a perder com o negócio ruinoso das ‘swaps’ [contratos de alto risco], onde quer a CP – Comboios de Portugal, quer a Refer também estão envolvidas. Por menos do que se vai gastar far-se-ia a modernização da Linha de Cascais, quer da infraestrutura, quer do material circulante”, disse o representante sindical.
A Lusa tentou obter esclarecimentos junto da CP sobre esta linha, mas até ao momento não teve resposta.
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