O esforço final dos “sprinters” não chegou para impedir o astuto Alexander Serov (Rusvelo) de segurar uma vitória conquistada num momento de precisão à saída de uma curva que antecedia a meta da primeira etapa da Volta a Portugal.
O ciclista russo saiu na frente na última curva, ganhando uma vantagem impossível de alcançar, até pelo “conhecedor” Manuel Cardoso, vencedor em Aveiro em 2009, na ligeira inclinação final dos 203,3 quilómetros da primeira etapa, que ligou Bombarral a Aveiro.
“Tínhamos previsto que ganhassem os ‘sprinters’, mas eles quebraram e eu fui rápido, dei o meu máximo para manter-me na frente”, explicou Serov, que quase foi alcançado por Maxime Daniel (Sojasun) e pelo português da Caja Rural, obrigando à consulta do “photo-finish”.
Ciclista desde 2001, o homem que partilha o nome com um famoso cantor russo – motivo pelo qual encontrar um perfil deste no Google se torna uma tarefa quase impossível – já tinha passado por Portugal, nos distantes anos de 2002 e 2003, com a sua equipa de então, a Lokomotiv.
Experiente, o russo de 30 anos, que passou pela Tinkoff e pela Katusha, somou a sua primeira vitória em Portugal e a quarta da sua carreira, algo que o deixou assumidamente “muito feliz”, na antevisão daquele que é o seu grande objetivo: o contrarrelógio.
Mas Serov é apenas o ponto final de uma jornada que começou muito antes. Primeiro dia de “a sério” de Volta a Portugal, primeira fuga da 75.ª edição, formada ao quilómetro três por Ronan Van Zandbeek (De Rikje-Shanks) e Abdraimzhan Ishanov (Astana Continental), um duo que chegou a estar com 15 minutos de avanço em relação ao pelotão
Passada a contagem de quarta categoria, na Nazaré, teve lugar o insólito: Ishanov, que a subir tinha ficado isolado na frente, tomou a espantosa decisão de aguardar pelo pelotão. Escolheu uma sombra, pôs o pé no chão e tirou o lanche do bolso e aí esperou 12 minutos pelo grupo, abdicando de forma original de uma fuga que, pela sua precocidade, estaria condenada à partida.
Mas se o homem da Astana desistiu facilmente da ribalta momentânea, o mesmo não se pode dizer do estreante Walter da Silva (Banco Bic-Carmim) que, na companhia de Adrien Lopez (Rádio Popular-Onda), tentou chegar a Aveiro na frente da corrida.
No entanto, com o vento a bater de frente, os dois, que conseguiram nove minutos de vantagem, foram presa fácil por um pelotão comandado pela MTN-Qhubeka e “atrasado” mais de uma hora em relação ao melhor horário previsto, para desespero, entre outros, do helicóptero responsável pela transmissão em direto, que teve de aterrar por estar com pouco combustível.
Talvez pelo forte vento, pelo impacto do primeiro dia ou simplesmente pela necessidade de preservar forças, o pelotão rolou a um ritmo de cicloturismo, cumprindo os 203,3 quilómetros da etapa mais longa desta edição a uma média de 34,041 km/h, um facto que o próprio vencedor destacou.
“Tivemos todo o dia vento de frente, foi complicado. Seis horas para cumprir 200 quilómetros é muito devagar, costumam ser precisas apenas cinco”, referiu Serov no final de cerimónia que consagrou a sua vitória e voltou a elevar Christoph Pfingsten ao título de dono da 75.ª Volta a Portugal.
O alemão da De Rijke-Shanks continua de amarelo vestido, com o mesmo tempo do seu colega de equipa, o holandês Bas Stamsnijder, num empate que poderá ficar desfeito esta sexta-feira, na segunda etapa, que vai ligar Oliveira de Azeméis a Viana do Castelo, no total de 187,2 quilómetros.