Volvo Ocean Race quer ficar em Lisboa durante dez anos

O diretor da Volvo Ocean Race anunciou na quarta-feira equacionar a possibilidade de manter o estaleiro da prova "10 anos ou mais" em Lisboa, por reconhecer à cidade o potencial para se tornar um "centro de excelência" náutica.
 
Em causa está a estrutura criada em maio deste ano na Doca de Pedrouços para montagem final dos barcos, que, entre outubro de 2017 e junho de 2018, irão participar naquela que é apontada como a mais longa prova náutica do mundo, percorrendo em nove etapas um circuito oceânico superior a 80.000 quilómetros.
 
A 11 meses de distância do arranque oficial do evento, nesse 'boatyard' já vêm trabalhando mais de 80 pessoas por semana e, considerando toda a logística da construção naval e necessidades daí decorrentes ao nível de alojamento, restauração e outros serviços, a organização estima em mais de seis milhões de euros o impacto que a prova gerou na economia local, só entre maio e dezembro.
 
"Cascos e 'decks' já estão prontos, mas tudo o resto é montado em Lisboa (...) e o nível de qualidade que aí temos é um bom catalisador para o futuro", declarou o britânico Mark Turner na sede da Volvo Ocean Race, na cidade espanhola de Alicante, que antes acolhia o referido estaleiro.
 
Turner frisou que o objetivo é permanecer em Lisboa "por um período consistente", já que "a cidade tornar-se-á a longo prazo muito atrativa para outros setores envolvidos no desenvolvimento de barcos (...) e terá oportunidade de ser um centro de excelência em termos de investigação", admitindo ainda que o assunto já foi discutido com a Câmara Municipal.
 
Ex-oficial da Marinha Britânica, fundador da empresa OC Sports (que promove o circuito Extreme Sailing Series) e ex-participante da própria Volvo Ocean Race, quando essa ainda se designava Whitbread Round-the-World, Mark Turner reconhece à capital portuguesa "escala operacional e solidez económica".
 
O seu objetivo é, por isso, transformar a Doca de Pedrouços na "base técnica da prova ao longo da próxima década ou mais", com o que Lisboa sairia ainda mais beneficiada, uma vez que, apenas com duas edições no currículo, já é a localização "com mais retorno por dólar" em todo o circuito da competição.
 
Tendo em conta que a organização da Volvo Ocean Race está por esta altura a definir a sua estratégia de longo prazo e equaciona a possibilidade de o evento deixar de ter periodicidade trienal, Mark Turner acredita que a cidade terá capacidade para vir a "'incubar' uma série de novas empresas relacionadas com a náutica".
 
"Lisboa merece ter o 'boatyard' por 10 anos", defende.
 
"Partindo do princípio de que temos condições para isso, podemos vir a organizar uma prova a cada ciclo de dois anos (...) e isso dará um novo impulso à cidade, que é o único local do circuito onde as equipas podem testar os barcos durante os meses que antecedem a regata", realça.
 
Feitas as contas ao impacto económico motivado por essa eventual nova calendarização, Mark Turner antecipa: "Se Lisboa se tornar a nossa base predefinida, muitos mais milhões [de euros] se seguirão".
 
Mas, enquanto isso, há questões que continuam por resolver em Lisboa relativas à regata de 2015, nomeadamente no que concerne a dívidas assumidas pela empresa Urban Winds, então parceira da Volvo Ocean Race na organização da etapa portuguesa.
 
Antonio Bolaños Lopez, diretor-gerente da prova, admitiu o problema à agência Lusa, mas realçou: "Qualquer aspeto financeiro relativo à última 'stopover' em Lisboa é da responsabilidade do nosso parceiro local na edição de 2014-2015. Mal fomos informados do que se passava por algumas das empresas afetadas, solicitámos-lhe que as contactasse para lhes explicar a situação e resolver qualquer questão pendente o mais rápido possível".
 
O processo poderá agora ter influência na escolha do parceiro para a etapa de 2017, que, segundo Bolaños Lopez, "irá ser designado nas próximas semanas".