A presidente da Junta de Freguesia da Trafaria, Francisca Parreira, visitou esta semana o barco Trafaria Praia, que está ser transformado numa obra de arte inovadora pela artista plástica Joana Vasconcelos, para representar Portugal na 55.ª edição da Bienal de Veneza, a mais importante exposição de arte internacional.
O antigo “cacilheiro, que durante muitos anos fez a travessia do Tejo entre a Trafaria e Belém, e está intimamente ligado à história da localidade, vai voltar a navegar, agora com atracagem junto aos Giardini, para mostrar Portugal ao mundo.
Curiosamente, este navio da classe alemã, que Joana Vasconcelos fez questão de manter como Trafaria Praia, leva o nome do país através de uma das freguesias que será extinta pela lei da agregação das freguesias, passando a fazer parte da Caparica. Ao mesmo tempo, a localidade está a ser alvo de um projecto do Governo que aponta a construção de um mega terminal de contentores, projecto que é contestado por autarcas e população.
Diz Francisca Parreira que “está a ser traçado o fim de uma freguesia que só pode desenvolver-se com a recuperação de toda a frente ribeirinha e com projectos de turismo e de lazer”. Foi esta a mensagem que a autarca quis levar a Joana Vasconcelos, considerando que o seu projecto “é um sinal identitário com a vila da Trafaria”, através de um barco “com o qual vivemos anos e anos entre as duas margens”.
Aliás, também Joana Vasconcelos revela ter um sentimento identitário com o barco Trafaria Praia. “No início da minha carreira foi um homem da Trafaria que me ajudou nos meus projectos”. Diariamente, a artista plástica via o Trafaria Praia cruzar o Tejo e esperava esse trafariense no cais de Belém. “Este barco faz parte da minha maneira de olhar o Tejo”, afirma.
Por isso, quando foi convidada pelo anterior secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, para criar um projecto que representasse oficialmente Portugal em Veneza, e não lhe atribuíram um pavilhão, a artista plástica lembrou-se de dar nova vida ao Trafaria Praia que, na altura, estava em vias de ser abatido.
“Fui ver outros barcos da mesma classe, mas tinha de ser o Trafaria Praia. Lutei para que fosse este barco. Estes projectos só resultam quando existe empatia sentimental e pessoal”, comenta Joana Vasconcelos que vê na Trafaria uma “magia enorme”.
Neste momento o projecto está a decorrer, estando o interior do barco a ser revestido com tecidos tradicionais, com um forro de cortiça e, por fora, será revestido com azulejos portugueses representando uma vista de Lisboa. Será ainda montado um espaço para receber artistas portugueses e uma biblioteca com livros sobre Portugal e está decidido que entre esses livros, alguns vão ser sobre a Trafaria. Uma localidade que é freguesia desde 1926 e, no início do século XX é estância balnear frequentada pela Rainha Dona Amélia e colónia de férias para crianças.
Entretanto, entre a Junta de Freguesia da Trafaria e a produção de Joana Vasconcelos, está a ser preparada uma iniciativa conjunta referente ao Trafaria Praia.
A transformação criativa deste navio, que tem apoios da Direcção-Geral das Artes, deverá estar concluída no início de Maio, para que esteja em Veneza antes no início da Bienal, a 1 de Junho e que terminará em Novembro.