Casa das Histórias Paula Rego vai manter cerca de 600 obras da pintora

A Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, vai manter cerca de 600 obras da artista, indicou hoje à agência Lusa fonte da comissão paritária criada para verificar o cumprimento do novo acordo sobre o museu.
Contactado pela agência Lusa, Salvato Telles de Menezes, membro da comissão paritária nomeado pela Câmara Municipal de Cascais (CMC) que vai passar a verificar o cumprimento do novo acordo com a família, indicou que ao todo, a pintora pediu a devolução de 186 obras emprestadas.
No fim de semana, o jornal Público noticiou que a pintora decidiu que voltassem a Londres, onde reside desde os anos 1950, cerca de 200 obras depositadas na Casa das Histórias.
Depois de o Governo ter decidido, no ano passado, incluir a Fundação Paula Rego na lista de fundações a extinguir, a CMC definiu um novo acordo com a pintora, assumiu a gestão daquela entidade e criou uma comissão paritária para acompanhar a aplicação do acordo.
O novo acordo vai ser assinado na terça-feira à tarde, em Londres, por Paula Rego e o presidente da CMC, Carlos Carreira.
"As obras que Paula Rego agora pediu para serem enviadas para Londres tinham sido emprestadas para fazer exposições na Casa das Histórias. Ela tem todo o direito de as levar, mas mantém-se disposta a voltar a emprestá-las, se for solicitado", indicou Telles de Menezes.
A comissão paritária integra representantes de ambas as partes: em representação da CMC, Salvato Telles de Menezes, administrador delegado da Fundação D. Luís I, em Cascais, e Nicholas Willing, filho da pintora, em representação da família.
De acordo com Telles de Menezes, o funcionamento desta comissão deverá ser oficializado nos oito dias seguintes à assinatura do acordo com Paula Rego, de 77 anos, uma das mais conceituadas artistas portuguesas.
No acordo, apontou, ficou assente que à comissão paritária "compete preparar, facilitar e aplicar as decisões das partes”.
Telles de Menezes indicou que "a gestão corrente é feita pela câmara e a gestão artística vai ser depois decidida pela comissão paritária, mas terá um importante papel da família".
“A comissão paritária não é uma comissão artística”, precisou o responsável.
Sobre o acervo da pintora que vai ser mantido na Casa das Histórias Paula Rego, Telles de Menezes apontou mais de 600 obras de pintura, guache e desenho, divididas em categorias diferentes: há 535 obras doadas, 57 em comodato (um empréstimo até 2016) e um outro núcleo emprestado pela artista.
"São as obras desse núcleo que a pintora pediu, mas não vão sair todas. Saem 186 e ficam 22, entre elas, as obras da série ´Ópera´ e outras do marido, Victor Willing", que serão exibidas numa exposição marcada para maio, acrescentou.
Questionado sobre a possibilidade de o museu vir a ter entrada paga, já que tem tido entrada gratuita desde a inauguração, em 2009, Telles de Menezes disse que "como passa a ser um equipamento cultural da autarquia, será a câmara a decidir".
A Lusa tentou também contactar Nicholas Willing sobre a assinatura do novo acordo e a saída das obras do museu em cascais, mas ainda não obteve resposta.
Contactada hoje pela Lusa, a ex-diretora da Casa das Histórias Paula Rego, Helena de Freitas, escusou-se a comentar este regresso das obras a Londres.
A curadora e especialista em História da Arte demitiu-se em março alegando "falta de condições" para prosseguir o projeto assumido em 2010, quando foi convidada por Paula Rego.
"Não tenho condições para prosseguir o projeto. A equipa não é a mesma, foi muito reduzida, e o acervo será diferente. Daqui para a frente será um outro projeto e não faz sentido eu continuar", declarou na altura à Lusa a curadora, de 52 anos, que entretanto regressou à Fundação Calouste Gulbenkian.
Desenhada pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura, a Casa das Histórias Paula Rego foi galardoada com o Prémio Secil de Arquitetura em 2010.