Presidente do INEM demitido processa agentes que atuaram no processo

O presidente do INEM, demitido pelo ministro da Saúde, anunciou hoje que vai agir administrativa e criminalmente contra os agentes que atuaram no processo, que conduziu ao seu afastamento do cargo, incluindo anterior equipa ministerial.
 
Em conferência de imprensa, Paulo Campos, que segunda-feira foi afastado do cargo de presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), por recomendação da Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS), disse aos jornalistas que tenciona agir administrativa e criminalmente contra todos os agentes que atuaram no processo.
 
Paulo Campos assegurou que, pelos factos provados, se verifica que atuou bem e diz não ter dúvidas de que foi vítima de um processo conduzido politicamente, e que este é um “saneamento político”.
 
Paulo Campos acusa mesmo o anterior secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, de o ter “proibido de falar” de cada vez que quis vir a público defender-se.
 
Entre os vários agentes que Paulo Campos tenciona processar, encontra-se a anterior equipa do Ministério da Saúde, dirigida por Paulo Macedo.
 
“Todas as pessoas que tiveram intervenção neste processo e que estão aqui identificadas e que conduziram isto no sentido que nós entendemos que não é o adequado, naturalmente que os vamos citar no processo para que se possa fazer justiça. A equipa ministerial anterior estará incluída neste grupo”, afirmou.
 
Relativamente ao atual ministro da Saúde, Paulo Campos afirmou compreender que “confrontado com esta decisão nestes termos tenha tomado esta decisão”.
 
Relativamente à investigação da IGAS sobre a atuação de Paulo Campos na alegada interferência que este terá tido no transporte de uma doente, em helicóptero do INEM, do Hospital de Cascais para o de Abrantes, o responsável sublinha que nada daquilo de que foi acusado publicamente em notícias de jornais se comprovou.
 
“Acusaram-me durante um ano de ter transportado uma doente amiga, ficou provado no processo que a doente não é minha amiga nem sequer é minha conhecida, acusaram-me de transportar uma doente terminal, ficou provado no processo que a doente não era terminal, era uma doente critica que precisava de tratamento, aliás precisava daquele tratamento até 48 horas antes de ele acontecer, que foi quando pudemos propor esse transporte”, afirmou.
 
Segundo Paulo Campos, a doente nem foi retirada do hospital por sua exclusiva iniciativa, “houve concordância explícita para que se pudesse fazer esse transporte”.
 
Quanto a acusações de ter gasto dinheiro ao erário público, Paulo Campos refere que ficou provado no processo que não houve prejuízo financeiro, que “não se gastou mais um cêntimo”, porque há um plafond de 1.500 horas de voo por ano e em 2015 gastaram-se 1.200 horas, aquém do que está pago.
 
“A questão que se põe aqui é afinal de que é que me acusam”, considerou, afirmando que houve “um ano de ataque” à sua honra e dignidade, que não lhe foi possível defender, por ter sido sempre “silenciado”.
 
“A cada tentativa que fiz de marcar entrevistas para falar e defender a minha honra, e tenho prova disso escrita, fui silenciado durante todo o tempo com e-mails do Dr. Leal da Costa, à data secretário de Estado Adjunto, que me impediu de falar em público, explicitamente com ordens diretas para eu não falar do assunto em público, que é a mesma entidade, enquanto entidade, que manda este processo para investigação, portanto façam o vosso juízo de valor sobre isto”, acusou.
 
Sobre o seu procedimento relativamente à doente em causa, o ex-presidente do INEM contou que tomou conhecimento de uma reclamação feita pela família da doente que entendeu que esta estava a ser maltratada no hospital.
 
Era sexta-feira à noite e não havia nenhum médico disponível para acorrer à situação, razão que o moveu ao local, onde encontrou a doente num corredor das urgências, amarrada a uma maca, com uma máscara invasiva e com a prótese dentária colocada.
 
Esta doente esteve, além disso, medicada durante 48 horas com um antibiótico que não era indicado, o que ficou também provado, afirmou Paulo Campos, considerando ter havido negligência médica e lamentando a omissão deste aspeto no relatório da IGAS.
 
“Houve perda de chance de tratamento, foram 48 horas de uma doente perdida numa urgência”, disse, frisando que “se não tivesse tido aquela atitude, hoje estaria acusado de homicídio por negligência”.