Um ano após entrar em funcionamento, no seguimento da morte de um ator, a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do Hospital Amadora-Sintra tem hoje mais saídas que a média do país e já salvou dezenas de vidas.
Esta viatura chegou ao Hospital Dr. Fernando Fonseca (conhecido como Amadora-Sintra) em março de 2016, após a polémica em torno da morte do ator José Boavida, que caiu numa rua de Queluz e teve de ser assistido pela VMER do Hospital São Francisco Xavier, apesar de estar mais próximo do hospital na Amadora.
Na altura, este hospital não tinha uma VMER, tendo o Ministério da Saúde dado indicações no sentido desta falta ser colmatada.
Nos dias que se seguiram, os profissionais receberam formação do INEM e começaram a formar equipas, as quais são hoje totalmente compostas por médicos e enfermeiros dos quadros do hospital.
Não foi difícil formar equipas para esta área da emergência médica, já que o gosto por tentar salvar vidas é o que move estes profissionais.
Cada viatura trabalha 24 horas por dia, sendo acionada pelo INEM. Está estacionada na entrada principal do hospital e é composta por um enfermeiro (que conduz) e um médico, apoiados em material que permite, entre outras coisas, desfibrilhar o coração ou garantir a ventilação artificial.
Os médicos que trabalham numa VMER têm de decidir depressa e saber técnicas de Suporte Avançado de Vida. Aos enfermeiros cabe, ainda, saber conduzir depressa, mas em segurança.
A enfermeira Ana Fonseca e o médico Simão Rodeia estavam escalados no dia em que a VMER cumpriu um ano de funcionamento, na passada quarta-feira, com direito a bolo e a um balão gigante com o número um, colocado na sala onde habitualmente registam o seu trabalho, no intervalo das saídas.
Os dois são unânimes em dizer que não é o dinheiro que os move, mas sim a possibilidade de poderem salvar uma vida.
Segundo Simão Rodeia, em cada saída é perseguido o objetivo de fazer o melhor possível para que a vítima chegue nas melhores condições ao hospital, que é o local onde os doentes são tratados.
Nesse dia de aniversário, às 11:00, a equipa já tinha prestado assistência em três situações: um octogenário com problemas cardíacos e respiratórios crónicos que estivera toda a noite com falta de ar, uma mulher atropelada e uma idosa num lar da terceira idade que estava prostrada e tinha febre alta.
Os três receberam no local a assistência da equipa da VMER e foram posteriormente transportados ao hospital numa ambulância.
A enfermeira e o médico apenas tiveram tempo para atualizar alguns procedimentos antes de seguirem para uma nova chamada: um homem com mau estar súbito que tinha caído frente a uma estação de comboios na Amadora.
O carro circula a grande velocidade até ao local onde a vítima se encontra, mas o regresso ao hospital é feito com calma e até música clássica. Desta vez, sem luzes nem sirenes.
As chamadas e respetivas saídas são muito frequentes, o que leva a administração do hospital a considerar que foi uma boa aposta.
"Os 5.000 euros que são gastos mensalmente com a VMER não são uma despesa, mas antes um investimento na saúde dos moradores a quem o hospital presta assistência e que ronda os 600 mil", disse o presidente do conselho de administração, Francisco João Velez Roxo.
Segundo este responsável, a VMER sai entre 10 a 13 vezes por dia, mais do que os oito a dez da média nacional.
Francisco João Velez Roxo adiantou que, entre março e dezembro de 2016, registaram-se 3.039 saídas.
"Acreditamos que cerca de 20% destas pessoas que receberam assistência da VMER do Amadora-Sintra teriam morrido se não a recebessem", disse.
Para Ana Fonseca, 33 anos, e Simão Rodeia, 31 anos, bastava que fosse uma só vida a ser salva para fazer todo o sentido.
Estes profissionais são frequentemente confrontados com a morte. Em cada cinco vítimas com paragem cardiorrespiratória, só uma é revertida e transportada ao hospital para posterior tratamento.
Mas há outras vítimas que incomodam mais estes especialistas em emergência médica: as crianças e alguns efeitos visuais do trauma que atinge sobretudo pessoas mais novas.
"É como se nos víssemos ao espelho", disse Simão Rodeia.